domingo, 5 de outubro de 2008

CUIDADO COM O SINCRETISMO!

A palavra “sincretismo” é derivada do grego, sunkretizo, “combinar”. Ela aponta para a realidade de junção de elementos constituintes de uma idéia ou um conceito. Há expressões sincréticas superficiais, quando o ajuntamento é meramente formal, sem nenhuma pretensão em montar um arrazoado que tenha o mínimo de seriedade no seu conteúdo, e há também expressões mais profundas onde no intrigado conjunto de fragmentos vemos a possibilidade de encontrarmos uma verdade excelente.

No sincretismo religioso temos a transposição de elementos de uma cultura religiosa para uma outra, sem se preocupar com a profundidade de tais correspondências, importando-se apenas com o invólucro da fé e não com a sua essência. Um exemplo grandiloquente disso é o que aconteceu com os negros aqui no Brasil Colônia. Uma vez proibidos de exercerem uma fé com suas raízes africanas, eles se submeteram ao “embraquecimento” de seus cultos e rituais apenas trocando os nomes de suas divindades por santos católicos portugueses.

Para o sincretismo teológico, vou novamente me render ao exposto por Champlim em seu dicionário em que ele expõe que se tentou durante anos unificar os credos das igrejas reformadas para que as mesmas fizessem quorum diante do domínio católico em continente europeu em meados do séc. XVI, mas o que se percebeu historicamente foi que um século depois todos os dogmas já estavam estabelecidos e absolutizados e toda tentativa de harmonização (sincretismo) foi considerado fútil. Na teologia o sincretismo esbarra-se na controvérsia do conceito de verdade dogmática, onde o importante não é apenas a verdade real dos fatos, mas também a verdade experimentada no contato com esses fatos!

Ambos, sincretismo religioso e teológico estão o tempo todo na mente do missionário que faz o seu trabalho no campo e depara-se com a tensão de tornar a sua mensagem compreensível ao seu público-alvo. Mas, eu temo que o mergulho nesse processo sem uma reflexão teológica séria poderá render prejuízos à integridade da mensagem evangélica. Já temos em nosso país elementos pagãos, por exemplo, em cultos de várias igrejas (sobretudo, neo-pentecostais!).

Citando textualmente Champlim: “Naturalmente, também existe um sincretismo barato, que meramente combina fatores por motivo de conveniência ou ignorância, não sendo, realmente, uma maneira adequada de inquirir pela verdade”.

Todo sincretismo que não tem como elemento norteador a verdade, cujo conhecimento da mesma torna o homem liberto de suas trevas espirituais (João 8.32) deve ser reputado como nocivo e totalmente inválido na nossa luta pelo retorno da igreja às estruturas simples do evangelho bíblico e cristocêntrico. O próprio apostolo Paulo sentenciou que como igreja somos “coluna e esteio da verdade” (I Timóteo 3.15)

E nessa luta, não podemos perder nunca do refinamento espiritual que somente o discernimento bíblico apurado poderá nos proporcionar, em um tempo de tantas distorções da verdade e tantos “cantos da sereia” com melodias melosas tentando seduzir-nos às heresias destruidoras da fé que temos de pelejar (Judas 3).

Um comentário:

Bia disse...

Muito lúcida essa palavra. Do desafio do missionário em tornar o Evangelho acessível ao paganismo em certas comunidades neo-petencostais há grande distância. Importante nota.