terça-feira, 16 de outubro de 2012

DEUS NÃO PRECISA DE CAMPANHAS PARA AGIR!

"Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus". (Mateus 4.4)

Fico boquiaberto com a criatividade dos mercadejadores do evangelho em suas campanhas de prosperidade! As pessoas são levadas como gado a se ajuntarem em busca de benesses materiais, e são envolvidas em um clima de delírio coletivo que leva muitos deles a sacrificarem tudo, incluindo a própria razão.

A primeira tentação a que Jesus foi submetido foi justamente a de sacrificar a simples presença de Deus pela satisfação plena de suas necessidades legítimas. Repare comigo pelo contexto da passagem citada que Jesus estava há 40 dias sem comer, e foi sugestionado por Satanás a transformar várias daquelas pedras (em forma de pães) que abundavam naquele deserto em pão de verdade. Nada mais legítimo! Nada mais compreensivel! Nada mais tentador!

Mas, Jesus fez questão de reorientar o seu foco: até aquele momento ele havia sido sustentado apenas pela palavra de seu Pai, e não deveria ser diferente no decorrer de sua vida. Naquele momento o passado beija o futuro, mas Jesus firmado no presente diz: o pão saciaria minha fome urgente, mas não abro mão do que é importante, o próprio Deus. Jesus não sacrifica sua comunhão com o Pai no atendimento de uma necessidade puramente humana (embora necessária, pois repare que Jesus disse "nem só de pão", o que implica em "também de pão").

Fazendo uma aplicação rápida percebo que esses obreiros fraudulentos que têm usado a palavra do Senhor para sugestionar rebanhos inteiros a confiarem na satisfação de suas necessidades imediatas estão na realidade emprestando seus lábios ao próprio Satanás. São servos do diabo, que persiste em seu propósito funesto de desviar homens e mulheres a uma busca desenfreada por sucesso pessoal e satisfação apenas de seus caprichos egoístas! Suas igrejas são grandes "shopping centers da fé" onde a mercadoria é um evangelho barato de Jesus que não salva ninguém do inferno, apenas torna a vida mais confortável aqui na terra!

Gosto de fazer pontuações pelo grego bíblico, e descubro que "palavra que sai da boca de Deus" aqui no texto tem a ver com "rhema" e não com "logos" para traduzir "palavra". O que isto pode significar? Não quero ficar me atendo às grandes discussões se esses termos no grego são sinônimos ou não, mas me parece que "rhema" tem a ver com "palavras específicas" e não com discursos bem elaborados ("logos", radical da nossa palavra "lógica").

Caso meu pensamento esteja na direção correta o que vem a gerar vida no coração do crente não é a elaboração de um pensamento doutrinário sistemático (embora isso seja sobejamente importante!), mas sim a lembrança de princípios bíblicos que podem ser aplicados no nosso cotidiano. Em outras palavras, temos de abrir mão tanto do irracionalismo neo pentecostal quanto do superracionalismo tradicional, pois ambos conduzem o homem ao pecado mãe de outros pecados: o orgulho.

Gosto de pensar orgulho como sugere Jonathan Edwards, como "a pior víbora que há no coração, e o maior perturbador da paz da alma e da doce comunhão com Cristo, é a mais escondida, secreta e enganosa de todas as lascívias".

Temos de vigiar o nosso coração constantemente para não sermos escravos de milagreiros travestidos de evangelistas, que enganam o povo com promessas de soluções para os seus problemas humanos, que não apontem para Cristo, o "homem de dores". E, da mesma forma temos de cuidar para não sermos legalistas que apontam para a letra da lei como se ela pudesse criar vida em ossos que já estão secos de esperança, à espera do sopro do poder do Espírito Santo de Deus.

O equilíbrio está em Jesus. Sem campanhas, sem "cultos de libertação", sem "noites de vitória ou de conquista", apenas Jesus! Ele nos basta! Faça como o próprio Jesus orienta: "Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará!". O que passar disso, é invencionice humana, palavras de lobos fantasiados de pastores!

Tenho dito.