sexta-feira, 11 de abril de 2008

AVIVAMENTO PURO E SIMPLES!

Minha reflexão persiste na temática do avivamento. Compreendo que o tempo que vivemos antecede um derramar especial de Deus, porque na história dos avivamentos sempre os vemos sendo precedidos por crises.

Temos no momento em nosso meio a crise do superdimensionamento do valor do culto. Entendo que o culto ao Senhor deve ser simples, reverente, coerente com a natureza do Deus que é três vezes Santo (Isaias 6.3) e deve ter o mínimo possível de manipulação humana, quer seja no extravasamento de emoções quer seja no ritmo frenético dos instrumentos musicais.

Já há muito tempo tenho pensado sobre a influência da música sobre a esfera do poder, acerca da mobilização que ele impõe naquilo que alguns têm chamado de “massificação”. O que encontramos em Daniel 3 quando Nabucodonozor constrói a sua estatua de ouro e solicita que todo o seu reino se curva, vemos a música desempenhando um papel de coerção à submissão irrestrita ao poder estatal. A música esteve aliada nos extermínios orquestrados por Hitler que tinha em Wagner, seu compositor predileto. Nos famosos encontros dos “gedozistas” sabemos de músicas em forte tom que são usadas para preparação do ambiente para verdadeiras lavagens cerebrais, isso sem falar das canções recheadas de repetições, formando aquilo que já tenho chamado de “mantras e extravagâncias”.

Aprendi com Peter Masters, pastor no Tabernáculo Metropolitano de Londres (a mesma igreja que foi pastoreada por Spurgeon no século XIX) que “o louvor não é uma apresentação de habilidades, beleza ou dons pessoais a Deus. O louvor é a comunicação da nossa alma com Deus, tão somente por meio dos méritos do nosso Senhor Jesus Cristo e do poder capacitador do Espírito Santo”.

Pensando nessa direção fica claro para mim que música na igreja não deve ser a essência da adoração, mas sim acompanhamento. O que Deus não rejeita é o coração quebrantado como a Palavra de Deus assevera em Salmo 34.18: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito”. Agora o espaço da música deve ser limitado ao papel de inspirar o coração com um toque que seja sereno, propicie a reflexão e doce à alma humana.

Se isso não acontecer, e a música persistir sendo um fim em si mesma, teremos aquilo que poderíamos chamar de “avivamento musicalizado” e não um despertamento genuíno provocado pelo Espírito Santo de Deus. Algumas características desse avivamento musicalizado são:

(1) Forte emocionalismo, mas sem proposta de transformação de vida.

Que a música mexe com as emoções do ser humano não se tem como negar de boa mente. Basta fazer uma pesquisa sobre a influencia dela em recém nascidos e também como terapia já celebrada no meio cientifico. Agora o problema a meu ver, não são as emoções despertadas, mas sim o propósito pela qual elas são tocadas. Se a música desperta valor apenas para a sua melodia e sua dramaticidade artística algo está errado.

O louvor a Deus precisa ser inteligente, racional e lógico a ponto de a letra fazer mais sentido do que o arranjo harmônico. Compreendo que música seja o conjunto de melodia, ritmo e harmonia, mas percebo também que nos nossos cultos precisamos mais da mensagem que nos é passada pela letra, uma vez que a revelação de Deus nas Escrituras honrou as palavras como sendo expressões de contato entre a alma humana e Deus.

Por isso temos de cantar hinos e cânticos que tragam em suas letras forte conteúdo doutrinário e capacidade de estimulo para mudanças de valores visando uma vida santa e apegada aos valores de Deus.

Ronaldo Bezerra foi muito feliz quando fez um comentário sobre o Salmo 137: "Não devemos e nem necessitamos buscar inspirações e melodias da "Babilônia" (mundo)! Em Isaías 52:11, Deus nos orienta: "Meu povo, saia da Babilônia..." Nós músicos, não devemos estar tentando alcançar o nível musical da Babilônia. Eles são os que têm que buscar o nosso nível! Considere o Salmo 137:3 - "pois aqueles que nos levam cativos nos pedirão canções, e os nossos opressores, que fossemos alegres, dizendo: "Entoai-nos alguns cânticos de Sião". Nesta ocasião, quando o povo de Israel foi levado cativo para a Babilônia, vemos que os israelitas não estavam se "contaminando" com as músicas dos babilônios para ver o que podiam "aprender", ao contrário, os babilônios queriam escutar as melodias de Israel porque eram famosas no mundo inteiro. A nossa música deve ser um testemunho às nações (Salmos 40:3). Assim deve ser! Uma música com unção profética que transforme vidas, que se escuta nas nações, que exalta a Jesus, para que, como resultado, as pessoas venham até Ele. Esta é a música que temos tocado nestes dias?”

(b) Forte badalação personalista e fraca compreensão do valor comunitário na igreja.

Geralmente as pessoas compram CD´s de seus cantores prediletos como se eles sozinhos fossem responsáveis pela excelência de suas produções. Na realidade negamos o valor da comunidade eclesiástica que deveria estar por trás do sucesso de algumas das “estrelas” do mundo gospel. Qual a igreja, a tradição eclesiástica do seu cantor preferido?

Não há espaço para carreiras solos no Reino de Deus, a impressão que eu tenho é que faltam raízes na maioria dos músicos no nosso seguimento evangélico. Eles mudam de denominação com uma facilidade incrível, geralmente por motivos dúbeis e interesseiros. Não fincam raízes, porque alguns não suportam prestar contas de suas vidas a homem algum. São exclusivistas, gostam do glamour e dos holofotes.

É uma tragédia encontrar pessoas que falam e oram por um avivamento, mas desconhecem a história de sua denominação! Não sabem que como base de tudo o que temos pensado em relação à igreja está os “apóstolos e profetas” em primeiro plano sem dúvida segundo Efésios 2.20, mas também se encontram os pioneiros que disseram não ao cristianismo tradicional e fincaram as bases daquilo que chamamos de “Reforma Protestante”.

Um povo que não conhece a sua história não pode se manter de pé diante das pressões do presente. É povo sem memória, sem lastros de tradição e sem bagagem argumentativa em relação aos desafios de nosso tempo cada vez menos comunitário e mais personalista. Está na hora de darmos uma guinada em nosso pensamento evangélico, parando de valorizar estrelas individuais para honrarmos a igreja como um todo, um movimento de protesto ao estabelecido, um conjunto de santos e santos (algumas vezes anônimos) que optaram em fazer diferença numa sociedade tão corrompida.

Valorizamos pouco os santos anônimos que temos em nossas igrejas. Incensamos os medalhões, os pastores de multidões, os ministros de louvor que fazem seus shows em estádios superlotados e vez por outra não temos olhos para os “josés e marias” que ministram louvor a Deus e para a glória de Deus em suas igrejas pequenas, apertadas e localizadas fora dos grandes centros, mais com uma piedade gritante porque apenas fazem tudo com simplicidade e pureza, como o Senhor Jesus gosta.

Não tem como gente, vida com Deus é coisa simples, o avivamento que tencionamos é uma brisa suave como aquela que visitou Elias na caverna em I Reis 19.8-18. Repare que eu e você influenciados pela barulheira do nosso tempo ficaríamos na expectativa de ouvirmos a voz de Deus no grande e forte vento, no terremoto e no fogo e nunca na voz mansa e delicada. Mas Deus age no simples, alguém já disse que Deus poderia ter se revelado a Moisés num vistoso carvalho ou numa bela palmeira, mas optou em se mostrar numa sarça (uma folhagem insignificante e frágil que era consumida pelo calor do sol)!

Na realidade, já chegando ao fim desse artigo, quem gosta de badalação e estrelismo curte o espírito da Babilônia e não o estilo de vida de Sião, e numa das minhas mensagens aqui na IBACEN eu perguntei: “você é um cidadão de Sião na Babilônia, ou um babilônio disfarçado na expressão local de Sião Celestial”. E eu quero terminar com uma citação de uma das mensagens de David Wilkerson em que ele citando o professor Milligton em 1885 identifica quem hoje é acometido do espírito babilônio. Leia com atenção:

"Babilônia não é a igreja de Roma, em particular. Não há dúvidas de que esta igreja pecou profundamente... mas não é a meretriz espiritual. Babilônia são todos os cristãos professos que amam os favores do mundo, mais do que o reprovam. São os que estimam a honra do mundo, mais do que vêem a vergonha dele. São os que amam o comodismo, mais que o sacrifício; amam o sucesso, cobiça - não tendo compaixão pelos pobres. Babilônia são todos que professam ser um dos 'pequeninos do rebanho' de Cristo, mas não são, pois O negam por seus atos.”.

Em outras palavras e como apelo final: obedeça ao que está proposto em Isaias 48.20: “Saí de Babilônia, fugi de entre os caldeus. E anunciai com voz de júbilo, fazei ouvir isto, e levai-o até o fim da terra; dizei: O Senhor remiu a seu servo Jacó;”. Somos de Sião, não temos compromisso com Babilônia, vivamos, pois, assim.

Ezequias Amancio Marins
Igreja Batista Central em Japuiba, Angra dos Reis, RJ.