quinta-feira, 19 de março de 2009

BEM AVENTURADOS OS QUE CHORAM...

"Assim como a criança chora ao nascer, aquele que nasce de novo também chora ao pecar". (Thomas Watson)

Hoje a noite meditarei com a igreja reunida sobre essa importante dica do Senhor Jesus para a nossa felicidade consumada na vida. Como todas as bem-aventuranças, o que temos aqui não é uma realidade apenas a ser vivenciada no "eschaton", isto é no final de todas as coisas, ou num tempo milenar, absolutamente, estamos diante de uma virtude espiritual que precisamos clamar por ter em nossa vida interior.

É impresssionante o quanto a nossa geração é debochada! Ri-se de tudo nessa sociedade petulantemente irreverente. Os programas televisos que exploram o entretenimento e as piadas sempre carregam no tom de seus comentários e nunca conseguem tornar o humor em algo totalmente saudável. Isto porque o mundo, "jaz no maligno", e o pecador tem encontrado prazer em tornar cômicas as tragédias de uma humanidade que caminha a passos largos na direção do inferno!

O que temos visto por ai é surpreendemente assustador: as pessoas estão secas por dentro, já não choram mais por suas mazelas inteiras, e muito menos se emocionam diante das tragédias que nossa sociedade vem acumulando... o que vemos são lágrimas tolas, mas lágrimas sinceras que, são feridas da alma que sangra, absolutamente vemos bem pouco!

Por isso passei a pensar no que caracterizam as verdadeiras lágrimas que precisam cair de nossos olhos, e me vi com um comentário do pr. Billy Graham que citarei textualmente, fazendo uma e outra consideração que julgar oportuno:

1) As lágrimas pela insuficiência humana.

"Na economia divina, você precisa descer ao vale da angústia e tristeza antes de poder subir aos páramos da glória espiritual. Você precisa sentir-se cansado e gasto de viver sozinho, antes de buscar, achar e gozar a companhia de Cristo. Você precisa chegar ao final do ego antes de começar a viver a verdadeira vida."

Na realidade o exposto aqui é o que consideramos de utilidade máxima para aqueles que transitam no universo dos relacionamentos humanos. Só pode haver senso correto de humanidade aquele que reconhece o quanto se é insuficiente em si mesmo. Não é a toa que a humildade é a base de todas as marcas ensinadas por Jesus em suas "bem aventuranças".

E, o que é a humildade a não ser o entendimento do quanto se é carente de Deus, e o quanto somos determinadamente desesperados em nós mesmos de um favor que nos recrie em nossa auto-estima, e demais valores indispensáveis à construção de nossa felicidade pessoal!

2) As lágrimas do arrependimento sincero.

"O choro do arrependimento não é o pranto da comiseração de si mesmo, e nem a tristeza por danos materiais, e nem o remorso pelo fato de os seus pecados estarem a descoberto. É, sim, mudança de direção, de atitudes e a renúncia da vontade."

Convencionou-se denominar "lágrimas de crocodilo" aquele chororô que não muda nada na vida, apenas mancha-se a maquiagem das mulheres e envermelha o rosto dos machões mimados! Na realidade suas lágrimas deveriam ser vertidas não pela descoberta de sua carnalidade, mas como resultado de seu arrependimento pelo pecado cometido! É incrível mas é verdade: chora-se mais pela besteira de ter sido encontrado no erro, do que do erro propriamente dito! Falta arrependimento no seio do coração de muita gente! Incluindo os que frequentam religiosamente os nossos templos!

3) As lágrimas do coração que ama.

Tenho de comentar sobre o coração de mãe. A mãe tem vez por outra como único expediente o uso das lágrimas! São mães que choram por filhos que não estão mais em seu colo. Outras que choram por aqueles que insistem em manter-se longe de seu carinho e apreço! Ano passado eu li um contundente artigo de Renata Oliveira sobre a relação das mães e seus filhos entregues ao tráfico nas favelas do Rio de Janeiro. O texto é de se ir às lágrimas!

Nesse artigo eu li sobre a Dona Julieta. O filho de 30 anos morreu em seus braços, após ser baleado a poucos metros da porta de casa. “O Pedro era trabalhador, como todos os meus filhos, ninguém arrumava uma loja como ele”, recorda Julieta. Ela conta que o filho se envolveu com uma mulher que o levou para a vida do crime, onde ficou por três anos até ser assassinado. Ele não usava drogas, mas passou a revender. Negava tudo para a mãe e até a acompanhava na igreja. “Os anos passam, mas a gente não se esquece. Dói muito perder um filho, ainda mais quando ele morre nos seus braços. Eu digo para as mães que têm filhos pequenos tomarem cuidado, porque eu ficava em casa e aconteceu isso. Agora, imagine essas mães que saem para trabalhar e deixam os filhos em casa, sem saber o que fazem?”.

4) As lágrimas da agonia da alma.

John Bunyan chorou por forte convicção de pecados por 18 meses inteiro! Os puritanos denominavam de "noite escura da alma" o tempo que passavam em desabafos diante do Senhoe, vertendo lágrimas genuínas de profunda batalha espiritual.

Hoje infelizmente os modernos evangélicos apelam para Neuza Itioka, dentre outras, com seus mantras e encontros exorcistas malucos, com seus óleos ungidos e comportamentos débeis bem característicos do neopentecostalismo brasileiro! Faltam lágrimas de agonia da própria alma, sobretudo daqueles que culpam os demônios de pecados que eles mesmos acalentam dentro do peito!!!

5) Por fim, as lágrimas da aflição bem aventurada.

"Assim, também em nossa vida há bem-aventurança no choro. As almas sensíveis cantam mais docemente. Não se pode comparar o coaxar dos grandes sapos com o suave trinado dum canário, porque o sapo é bem menos sensível à dor, aos ventos frios e à privação. Quanto mais altas as formas da vida, maior é a sensibilidade ao sofrimento."

Essa última citação de Billy Graham é por demais ilustrativa e abençoadora! Na realidade o sofrimento com que passamos a nossa vida norteia aquilo que chamamos de avivamento na nossa vida! Se queremos a atuação de Deus na nossa história mudando os ares de nossa vida pessoal, família, igreja, cidade e nação temos de chorar mais. Chorar por não ter lágrimas para chorar. Chorar pelos nossos vacilos eclesiásticos. Chorar pelas divisões que provocamos ao Corpo de Cristo. Chorar pela pequenez de nossa estatura espiritual. Chorar por nossa negligência no serviço cristão. Chorar pelas oportunidades perdidas de evangelização. Chorar até ter vontade de chorar. Chorar mais e falar menos!