sábado, 31 de agosto de 2013

CALMA AI, LOBÃO!

"A Marina Silva é uma versão mais destrambelhada da esquerda porque, para piorar tudo, é evangélica. Imagine os verdes religiosos no poder- o Brasil viraria uma 'clorofilocracia' teocrata". (Lobão, "Páginas Amarelas", Revista Veja, 28/08/2013)

O cantor João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido no meio artístico como "Lobão" é um homem, com seus 55 anos, bastante controverso. Fui usuário de drogas pesadas, se indispôs com gravadoras famosas por conta do famoso "jabá" (valores exorbitantes segundo ele, cobrados por elas para emplacarem determinadas músicas), e de uns tempos para cá enveredou-se na escrita de livros com temas polêmicos, como o de sua última lavra, o "Manifesto do Nada na Terra do Nunca" em que ele expõe toda a sua decepção com o governo petista. Até ai, tudo bem, suas críticas são bem no seu característico de atirar para todos os lados, defendendo uma impossível causa de soluções simplistas para problemas complexos na política brasileira.

Mas o meu destaque é o da fala acima destacada, em que o cantor critica a presidenciável Marina Silva de ser uma versão piorada da política esquerdista por ser justamente evangélica. Compreendo que, o pensamento de Lobão a respeito dos evangélicos é reflexo do que grande parte da intelectualidade brasileira pensa a respeito do movimento evangélico em nosso país. Aceito que uma parte do nosso segmento realmente é ignorante e boçal, mas não posso concordar que por ser evangélica, Marina é "destrambelhada", porque é o contrário que é verdade, Marina só é equilibrada em seus posicionamentos políticos, por ser evangélica. Uma evangélica de firmes convicções, com lastro de uma história de milagres e que, encontra na Bíblia inspiração para suas utopias.

O que Lobão não sabe é que o movimento evangélico chegou ao Brasil de vez em 1855 com um casal de idealistas, Robert e Sara Kalley, ambos escoceses, que se estabeleceram inicialmente em Teresópolis onde se reuniram com um grupo de imigrantes para estudar a Bíblia. Inconformado em ficar isolado na linda região serrana do Rio, logo eles estabeleceram residência na capital do império, a cidade do Rio de Janeiro, onde em 1858 organizaram a primeira igreja evangélica em solo brasileiro.

Lobão também não sabe que por conta desse marco evangélico em nosso país escolas foram fundadas, projetos sociais foram desenvolvidos no interior do país, suportes para o estabelecimento de estudos sobre a própria "brasilidade" foram estabelecidos, pois a despeito dos primeiros pastores em solo brasileiro terem sido estrangeiros, todos tinham para com o nosso país uma visão inclusiva e desprovida (na maioria das vezes) de preconceitos, como os portugueses que aqui estavam para explorarem nossos ricos recursos.

Ser evangélico representa o privilégio de pertencer a um grupo que ousou ajudar nas bases de uma nação que tinha tudo para dar errado, pelos próprios paradigmas impostos pelos portugueses em nossa colonização mais que poderia dar certo pela força do seu povo. Tenho para mim que, se o Brasil não tivesse alguma presença evangélica nesse período nós teríamos nos tornado um "grande Haiti"!

Alguns historiadores fazem uma importante avaliação entre as colonizações católicas (da America Latina) e as protestantes (EUA e Canadá) e consideram que a fé evangélica tem como motor o desenvolvimento da terra para uso comum, enquanto no catolicismo fica clara a concentração dos recursos em torno de uma Coroa. Enfim, o que o Lobão se esqueceu de considerar é que por ser evangélica, Marina pode muito bem compreender que o Brasil é mais forte quando é dos Brasileiros! Um lema bem defendido pelos evangélicos históricos em todas as partes do mundo!

Uma outra observação que preciso fazer é que, embora Marina seja de uma igreja evangélica pentecostal de nosso país, a poderosa Assembleia de Deus, a própria cúpula da igreja nunca admitiu um apoio expressivo a ela, isso porque a liderança dessa que é a maior igreja evangélica de nosso país está sempre flertando com o poder politiqueiro, e tenho para mim que eles concordam mais com o Lobão do que comigo a respeito desse assunto.

Tenho dito.