quinta-feira, 24 de julho de 2014

O QUE ESTAMOS VIVENDO AQUI NO HAITI.

"Quem recebe uma dessas crianças em meu nome,está me recebendo". (Mateus 18.5)

Estou liderando uma caravana de onze brasileiros em uma missão aqui no Haiti. No perfil geral são pastores, missionários, professoras e estudantes batistas (com a honrosa exceção de uma assembleiana) que se disponibilizaram suas férias e folgas para servir à igreja haitiana. Vieram de Angra dos Reis (RJ), Queimados (RJ), Riomde Janeiro (RJ) e Macéio (AL).

E a proposta que nos une aqui esse ano é bem emblemática, pois há tempos venho dizendo que a face mais triste da tragédia do Haiti nesses séculos de exploração internacional e pobreza extrema  são as crianças, e entendo que nossa contribuição deve ser na direção de uma capacitação para professores e cuidadores que atuam na educação infantil desse país.

Pensando nessa direção, Deus montou essa equipe para trabalhar em um "Congresso de Educação Cristã com temáticas contundentes a esse contexto de reconstrução nacional: teologia bíblica da criança e do educador, direitos universais da criança,  psicologia do desenvolvimento da criança, Jesus como modelo de educador, criatividade em sala de aula, contextualização de conteúdos, transtornos de aprendizagem e oficinas de reciclagem, confecção de instrumentos e demais assuntos do interesse do educador contemporâneo.

O que temos aqui essa semana são 25 (vinte e cinco) professoras e professores absorvendo cada ponto de nossas palestras, e atentos nos cultos noturnos quando somos conduzidos em "louvor e adoração" por um ministro de música haitiano e sempre com uma palavra de um dos pastores de nossa equipe para motivar os haitianos a reconstruírem seu país dependendo do favor do Senhor. Ontem falei sobre o caráter compassivo de Jesus, no episódio da "multiplicação dos pães e peixes".

Com os recursos financeiros que conseguimos levar (7 mil dólares) estamos mantendo os custos do Congresso (custeando a participação dos congressistas) e iremos deixar kits educacionais para quatro   escolas de ensino pré escolar e ainda donativos para orfanatos e bíblias que pretendemos distribuir em um dos acampamentos aqui da capital. As carências aqui são enormes, mas entendo que podemos ajudar ainda mais para minorarmos essas dores e carências.

Algo que está muito claro em nossa mente nesse investimento que estamos fazendo aqui no Haiti é a necessidade que temos em crer na educação como sendo ponte de transformação não apenas no quesito da individualidade, mas também de reconstrução de valores nacionais. O Haiti tornou-se independente em 1804, bem antes dos EUA e do Brasil e firmou-se como uma  nação de guerreiros, mas não de construtores de valores nacionais. Dos primeiros 20 presidentes, 16 foram assassinados, isso atesta o caráter belicoso de um povo que, por conta da defasagem tecnológica encontra-se vivendo ainda como alguns recantos africanos, da cultura de subsistência. Aqui o que se produz, se consome, e pasmem, sem investimentos estrangeiros esse país não tem como caminhar.

O que podemos fazer então para ajudar? Investindo em três frentes de trabalho: "formar formadores, discipular discipuladores e empreender empreendedores". Essa é a visão dos batistas brasileiros aqui no Haiti, que estão representados pela familia missionária André e Verônica. Temos jovens radicais aqui no país (que irão embora em setembro) e precisamos que outros se levantem para exercerem um ministério distinto do que estamos acostumados ai no Brasil. Aqui não há necesidade de evangelistas e pregadores, mas de professores, assistentes sociais e profissionais que desejam formar e capacitar uma nova geração que seja autônoma em suas propostas e ações comunitárias.

Algumas ONG's conseguiram enriquecer seus presidentes aqui no Haiti. Uma porcentagem louca de recursos recolhidos para ajudar no combate a miséria foram vergonhosamente desviados de suas intenções primeiras. O aue temos agora, nesse país é um suspiro por pessoas que se coloquem ombro a ombro com eles, não apenas orientando novos caminhos, mas caminhando com eles.

Estamos aqui essa semana para isso: passar conceitos, fazer junto com eles, investir financeiramente, mas sobretudo revermos também nossa prática, sobretudo em um contexto de igreja evangélica brasileira que anda por demais acomodada e pensando apenas em seu próprio umbigo. Sei que merece um outro artigo, mas devemos deixar de ser uma igreja guiada por programas, para sermos uma igreja guiada por princípios.

Não sei porque, mas quando estou aqui no Haiti eu aprendo mais do que ensino.