Vou me dedicar nesta manhã no esforço de trabalhar em um apanhado dos princípios compartilhados por Watchaman Nee em seu precioso livro, "autoridade espiritual", lançado no Brasil pela Editora Vida.
Esse livro que é resultado de mensagens radiofônicas do mestre da Bíblia e um dos principais líderes do movimento cristão na China Comunista feita em 1948. Nee dedicou sua vida inteira em abençoar a igreja clandestina na China e faleceu em 1972 numa das prisões daquele complexo país.
Para Nee o exercício da autoridade espiritual é algo palpável na história da humanidade e trata-se de um tema facilmente verificável na própria relação de Deus com a natureza criada. Deus é a própria manifestação de sua autoridade, isto pois "a autoridade divina representa Deus, ao passo que o seu poder se expressa apenas pelos seus atos".
Isto posto começo então a fazer algumas reflexões que julgo serem relevantes. Nos desdobramentos naturais desse principio de "autoridade absoluta", posição que somente o nosso Deus ocupa, uma vez que Ele é um ser perfeitamente belo e justo, posso acompanhar na história que Deus nos comissiona a sermos seus "vice regentes" (usando uma expressão de Groningen), e isso é visto nas alianças iniciadas por Deus na mediação de homens que representavam aquilo que Nee chama de "autoridade delegada".
Nesse primeiríssimo aspecto de mediadores de alianças não temos hoje necessidade de identificarmos homens que venham a ser nossos intermediários em relação a planos e projetos de Deus a nosso respeito. Já temos a "lei e os profetas", como diria o Senhor Jesus na alegoria do rico e Lázaro, em Lucas 16. Embora, infelizmente existam em nosso meio homens que desejam obter poder e autoridade no domínio espiritual por suas próprias forças e méritos, sabemos que tais impostores megalomaníacos são loucos por visibilidade mas podem ser considerados "nada" diante de um Deus santo, que não admite dividir a sua glória com ninguém.
Ah! como precisamos de homens que tenham ao menos um vislumbre da santidade de Deus!
Invejo (e uso essa palavra com certa cautela, mas foi a melhor que meu veio agora) da experiência que Jonathan Edwards teve com a manifestação da trindade divina, vejo que ela resume muito bem o nosso desejo por um toque da magnitude divina:
“Uma vez, em 1.737, ao cavalgar nos bosques por causa da minha saúde, tendo desmontado de meu cavalo em lugar afastado, como geralmente faço, para andar e para contemplação divina e oração, tive uma visão, que para mim foi extraordinária, da glória do filho de Deus, como Mediador entre Deus e o homem, e da sua maravilhosa, grande, plena, pura e doce graça, e do seu amor e de sua condescendência mansa e gentil [...] isto durou, no que posso avaliar, por mais ou menos uma hora; e me deixou na maior parte do tempo em um mar de lágrimas, chorando em alta voz."
Por isso que eu creio que nessa trilha da experiência profunda com Deus encontramos algumas marcas de quem de fato recebe de Deus a incumbência de ser autoridade na casa de Deus, a saber, os que são chamados a serem líderes precisam ter:
(a) Humildade. Enquanto os ambiciosos procuram acercarem-se de responsabilidades para estarem sempre se movimentando em busca de algo por fazer, os líderes humildes expulsam a raiz venenosa do orgulho, compreendendo que a pior forma de orgulho que existe é o de expressão religiosa e pseudo-espiritual. O próprio Jesus submeteu-se em humildade ao imperativo do Pai sem perder sua essência como pessoa divina, mas humilhando-se até incorporar-se em forma de servo. (Filipenses 2)
(b) Conteúdo bíblico. Enquanto os personalistas no meio evangélico estão preocupados apenas em tirar proveito do povo (sobretudo em questões financeiras, com a solicitação de ofertas absurdas), os líderes de Deus empenham-se na exposição das verdades bíblicas. Vou citar mais uma vez o Jonathan Edwards nesse quesito: Ele afirmou certa vez: “Quando vou pregar, tenho dois objetivos em mente. Primeiro, cada ouvinte deve entregar o coração a Jesus. Segundo, independentemente das decisões dos outros, eu entregarei minha vida a ele.”
(c) Amor Pastoral. Há pessoas que reinvidicam "autoridade espiritual" apenas para controlar, manipular, e usam esse principio bíblico para dominar pelo medo! Mas, a verdade exposta por este tema é justamente o contrário: quem é autoridade, só pode manter-se nessa posição se cultivar um espirito de servo. Vou citar textualmente Nee: "Não nos esqueçamos de permanecer na posição de servo. Deus jamais confia sua autoridade aos que têm justiça própria e se apóiam apenas na própria competência."
Julgo ser oportuno tratar desse assunto nesse contexto que vivemos. Hoje à noite falarei com os líderes de ministérios de nossa igreja sobre este tema. Encorajo pastores e líderes a lerem o livro de Nee e não apenas passar esse conteúdo, mas deixá-lo entrar na veia dos nossos homens e mulheres (que exercem autoridade limitada, uma vez que elas devem estar sujeitas ao governo masculino, de acordo com I Timóteo 2.9-15).
Façam seus comentários.
Um comentário:
Olá pastor,
Ganhei o livro Autoridade Espiritual há algum tempo, mas ainda não li... com sua reflexão sobre o tema, sinto-me impulsionada a lê-lo.
Obrigada pelas ricas "inquietações" que suas palavras provocam. Deus o use ainda mais.
Da sua aluna, Ana Paula.
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