quinta-feira, 12 de julho de 2012

O NOSSO HAITI INTERNO!

"Deus, que de nada necessita, ama por toda a existência criaturas inteiramente supérfluasa para poder amá-las e aperfeiçoá-las". (C. S. Lewis)

Na iminência de voltar a pisar o santo solo haitiano leio esse pensamento no livro que estou lendo atualmente, "De volta à cabana" de C. Baxter Kruger, e fico absorto em imaginar o quanto Deus nos ama, a despeito de nossas fragilidades existenciais. Nossas esquisitizes interiores não são vis o suficiente para fazer com que o nosso amado Jesus vire as costas a nós a ponto de experimentarmos o que poderia chamar de "desprezo divino". Me encanta em pensar que quanto mais sou humano, mais sou amado! E, isso tem a ver com as minhas impressões a respeito do Haiti.

Nas duas últimas vezes que estive nesse que é o país mais pobre das Américas, fui incomodado com lágrimas teimosas que vinham justamente pelas cenas de pobreza extrema, gente misturado com lixo e dignidades enfeiadas, e tomei uma atitide no meu espírito: não ficarei apenas na contemplação! Penso que, salvaguardadas as devidas proporções, isso é o que estava na mente de Deus quando, na eternidade pensou em sua intervenção sobre a terra para liberar o caminho que o pecado havia bloqueado, a saber, a trilha que conduz o homem ao Seu coração amoroso. Deus poderia ter se calado, mas não fez! Ele abriu sua boca, revelou seu mais forte argumento, enviou o "verbo", enfim, movimentou com a força da graça as estruturas do universo.

E, saber que em sua vinda humilde facilmente identificamos a invasão do sobrenatural inexplicável a um mundo natural chafurdadaso e mal cheiroso, só podemos exprimir esse amor de uma forma louca: "que amor é esse?". Foim uma entrega apaixonada a uma humanidade que em sua gênese tem mais a ver com o Haiti do que com a Suíça, pois concordo com o bispo anglicano William Temple que vai dizer que a única contribuição que fizemos em relação à nossa salvação foii a entrega da nossa miséria! Não temos dúvidas que nossa pobreza é a essência da humanidade caida e, sem dúvida, se não fosse a graça de um Deus que se nivelou por baixo ao nos encontrar, estaríamos irremediavelmente perdidos.

Concluo que ir ao Haiti é como encontrar-se comigo mesmo em meu mais verdadeiro "eu". Enquanto vivo no conforto de minha rotina não sou autêntico. Por mais que seja franco, vez por outra represento um papel social, e os benefícios da vida em nosso país maqueia, minha fealdade, e isso narcotiza minhas neuras! Agora, no Haiti, desnudo-me daquilo que projeto apenas para os outros, enganando a mim mesmo.

Por isso penso que, independente de irmos ou não ao Haiti, é necessário que ele venha até nós e revele nossas falsidades e maquinações, e sobretudo ao nos desnudar, torna- nos mais gente, mais simples e sobretudo, mais livre! Somos pobres haitianos de alma que, por vivermos em um contexto superficialmente mais rico, facilmente pensamos ser mais do que realmente somos: pobres crianças de Deus!

É o que penso.

PS. As próximas postagens serão no trânsito ou no próprio Haiti. Vou em busca do que insisto em perder. E, em achando não quero voltar a perder! Vamos juntos?

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