Sempre me fazem a pergunta: "o curso teológico no SETIAR é reconhecido pelo MEC?". E eu dou a mesma resposta: "não é, e nem pretende ser".
Sou diretor do SETIAR (Seminário Teológico Interdenominacional em Angra dos Reis) há 14 anos, desde que éramos extensão do SETEMIRJ (Seminário para Missões do Rio de Janeiro), à época dirigido pelo pastor congregacional Amaury de Souza Jardim. E, tenho militado em magistério teológico desde 1997, quando comecei a dar aulas na então extensão do STBSB (Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil) em Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro.
Desde há algum tempo, os seminários denominacionais entraram em verdadeira polvorosa na ânsia de terem seus cursos teológicos reconhecidos pelo padrão MEC. Para obterem esse "imprimatur" governamental matérias biblico-teológicas foram sacrificadas, para darem lugar às outras disciplinas de cunho mais sociologizante, psicologizante e alienante do conhecimento das Escrituras! Resultado: hoje temos seminários que formam especialistas em religião, mas fraquíssimos em Bíblia! Qualquer pessoa pode se tornar aluno em nossos seminaristas. Não é a toa que o traficante Fernandinho Beira Mar é aluno de uma faculdade batista! Isso mesmo!
O reconhecimento pelo MEC faz com que haja uma intervenção estatal na elaboração dos currículos, propostas pedagógicas e disposição de materiais em bibliotecas. Além, é claro de cobrar uma organização financeiras que beira ao status empresarial, e não contempla as especificidades de um entendimento mais de "rebanho" e menos de "empresa" que vemos estampado nas Escrituras. Em outras palavras, o MEC fossiliza a teologia e sacraliza a administração eclesiástica.
Muitos professores pastores foram dispensados para darem lugar a professores pesquisadores dos fenômenos religiosos. Com isso, temos cadeiras importantes como "teologia sistemática" sendo ocupadas por professores questionadores da própria revelação bíblica! Isso, tremo em imaginar que, se já não temos, um dia teremos professores de teologia ateus em nossos principais seminários denominacionais!
Por isso, eu pergunto: para que serve o reconhecimento pelo MEC. Até onde eu sei, ministério pastoral é para chamados por Deus para o exercicio de suas atividades no seio da igreja local, com implicações transformadores na comunidade ao entorno. Logo, quando penso no apóstolo Paulo não consigo concebê-lo requerendo do império romano um título de "teólogo", ao contrário ele em seu testemunho junto aos pastores diz em letras garrafais que seu ministério era de um despojamento de valor próprio em si mesmo:
Atos 20:24
24 - Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
Por isso, que tenho de concordar com Russel Shedd em relação aos dois evangelhos que temos hoje em nossa praça: "Há, portanto dois evangelhos na praça. O primeiro convoca
pessoas para que supliquem o favor divino e vejam suas vidas mudando de fora
para dentro, sendo que, na maioria das vezes, as coisas, quando mudam, só fazem
do lado de fora. Este promete mundos e fundos para quem não é bobo, está
sofrendo ou deseja viver mais confortavelmente. O outro Evangelho é aquele que
convoca ao arrependimento e à fé, que resultam em transformação de dentro para
fora, Este é caminho estreito, apelo para que se tome a cruz (Mt 7:13,14)".
O reconhecimento pelo MEC deve ser buscado para quem procura títulos, aspirando os aplausos dos homens e os láureos cumprimentos das autoridades constituídas em nosso país. Não é a toa de que, quem defende esse reconhecimento também apóia a institucionalização da profissão de "teólogo" no Brasil, proposta que já tramita numa das comissões da Câmara, aquela que é vem sendo dirigida por um homem que, a despeito de ter "felicidade" no nome, não demonstra em sua verve a doçura de Jesus, mas a dureza dos fariseus.
Chega de se curvar diante dos homens, para termos nossos cursos reconhecidos e nossa missão aceita como credibilidade profissional. Recomendo a leitura do livro: "irmãos, nós não somos profissionais" de John Piper, e parodiando o título dele, eu diria: "irmãos, os pastores não são profissionais, e seus cursos não devem ser reconhecidos, pois os mesmos tem alcance eterno, e o MEC não alcança em seu padrão elementos para avaliar algo que vem de Deus".
É o que eu penso.
PS. Só para explicar: o "canto da sereia" exposto no meu título reporta à mitologia grega quando Ulisses em uma de suas mensagens, amarrou-se num mastro de seu navio para não ser tentado a se jogar ao mar por conta de uma região onde as sereias costumavam cantar, enfeitiçando os homens, para depois matá-los. O MEC é assim: seduz pastores e depois os matam, tornando-os apenas "bacharéis".
5 comentários:
Isso é tudo o que eu penso. E mais: Gostaria de ter escrito este texto. Texto definitivo sobre a relação MEC/SEMINÁRIOS BATISTAS. Parabéns!
muito bom
Que bom que outros pastores pensam dessa forma. Há 17 anos venho dizendo isso, mas os demais pastores me chamam de "fundamentalista" (como se isso fosse ofensa). Espero que mais pastores entendam que não precisamos do selo do MEC, mas da aprovação do SENHOR.
Caro Pr.Ezequias Marins
Os Seminários devem horar seu compromisso e natureza históricos de serem uma casa de Profeteas que existem em função do ministério do Evangelho do Senhor Jesus e para formar as lideranças da igreja para evangelização do mundo e edificação do corpo de Cristo. Somos o desdobramento do conceito bíblico de Igreja atuando na capacitação de Homens e Mulheres que atuarão na Igrejas e em função da expansão e crescimento das igrejas. Por isso somos Organização Religiosa tal qual a Igreja definida por lei e gozando das mesmas isenções e regime de trabalho das igrejas. Aqueles que decidem correr o risco econômico e abrir faculdades no regime de mercado do Mec que o façam, mas deixem os Seminários fazerem sua obra em consonância com as Escrituras e a serviço direto das igrejas.
Um Abraço.
Pr. Abelardo Rodrigues de Almeida
Diretor do Seminário Batista em Goiânia e Primeiro Secretário da ABIBET
Possuo formação universitária secular nas áreas de saude, educação e tecnológica, fui aluno e professor de Seminário Teológico e na época da movimentação para reconhecimento do curso de Teologia fiquei encarregado do processo para autorização e reconhecimento para o Seminário onde lecionava. Desde o início procurei demonstrar que não haveria ganho algum para os Seminários, muito pelo contrário. Os que iniciaram esse caminho tinham motivos para buscar o reconhecimento pelo MEC e talvez tenha até sido bom para eles. Para o caso particular de muitos Seminários, não ví vantagem nenhuma. Propus que passassem a exigir para ingresso no Seminário um curso superior concluído ou em curso. Poderiam até providenciar uma parceria de graduação a distância que seria cursada paralelamente de forma a assegurar a questão de uma titulação reconhecida. E não teriamos grande problema com isto. Do meu ponto de vista, a formação de pastores deve ser feita em curso livre e, na atual conjuntura, sem concessão de títulos seculares (bacharel, mestre, doutor...). Quem quiser tais títulos que o faça nas instituições e cursos reconhecidos. Certificariamos (e não emitiriamos diplomas) através de cursos que contivessem o nome do que realmente pretendemos: Curso de formação pastoral; Curso avançado de tal coisa.... E não ficariamos à mercê de PROCON, Ministério Público e MEC bem como de quem não tem como objetivo o ensino de caráter eclesiástico. Posso estar equivocado? Claro que sim. Mas é a minha opinião...
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