domingo, 9 de março de 2008

OS BATISTAS PRECISAM DE UMA REFORMA! VOCÊ CONCORDA?

Eu tenho presenciado determinados ensinos e posturas em nosso meio batista que tem me deixado preocupado. Mesmo na minha tenra idade (tenho 33 anos, 14 anos de ministério e 11 anos de magistério teológico) tenho me alarmado quando ouço mensagens com forte conteúdo neopentecostal em nossos encontros denominacionais, a ciência que temos igrejas batistas se notabilizando pela unção com óleo em seus cultos, compreensão equivocada (e por que não dizer paganizada) do tema “batalha espiritual”, dentre outras barbaridades.

Creio de todo o meu coração que antes de ansiarmos por um avivamento (ou ao mesmo tempo) temos de desejar uma profunda reforma em nossa teologia e um retorno às doutrinas da graça pelas quais homens como Lutero, Zuinglio e Calvino deixaram-se consumir por inteiro.

Já se completaram 490 anos em que um monge agostiniano chamado Martinho Lutero com ousadia de um santo afixou nas portas de uma igreja na Alemanha suas famosas "95 teses" em que questionava a autoridade do papa em perdoar pecados mediante o pagamento de um valor em dinheiro.

De lá para cá muita coisa aconteceu. Sem pretensão de ser o dono da verdade, venho levantar fatos e dados da história para deixar registrado que o avanço da educação em solo europeu confunde-se com a solidificação dos princípios consagrados na Reforma Protestante.

Vou me ater nesse artigo, inicialmente a algo que escrevi em 1992 como texto para um discurso de formatura do meu 2º grau (com saudades das primeiras reflexões de um adolescente que aprendia a amar a Bíblia pela ótica protestante):

“Na Idade Média, o cristianismo teve bastante influência na Educação. O lema desta época era: "Deus, pai de todos e os homens, por conseguinte irmãos entre si". A igreja Romana desempenhava papel fiscalizador do sistema. Só era permitido ensinar aquilo que Ela interpretava como sendo da "vontade de Deus".

A época denominada "Renascimento" e a "Reforma Protestante" do séc. XVI contribuíram para um alargamento da visão do mundo, do que seria e para que servia uma instituição educacional. Lutero, um dos líderes da Reforma Protestante escrevendo aos magistrados e senadores alemães afirmava: "A prosperidade de uma cidade não depende somente das riquezas naturais, da solidez de seus muros, da elegância de suas casas, da abundância das armas de seus arsenais. A salvação e a força de uma cidade residem, sobretudo na boa educação que lhe dá instruídos, razoáveis, honestos e bem educados cristãos.”

Voltando aos olhos nesse excerto de meu discurso algo me vêm à mente: até que ponto o apelo de Lutero que culminou no entendimento dos primeiros reformadores de que deveria se popularizar a leitura e a escolarização das pessoas para termos bons cidadãos surtiu efeitos após 490 anos?
Estamos atrasados porque os valores da Reforma ainda não penetraram na mente dos "formadores de opinião" de nosso país. O meio batista está cheio de pessoas interesseiras e fracas de conteúdo. O que temos percebido é que os princípios basilares da Reforma tem sido ignorado. E, com isso nossas igrejas estão cheias de pessoas vazias! Analise comigo atentamente:

(*) Onde está o "sola scriptura"?

O entendimento de que a Bíblia somente é a palavra de Deus tem sido substituído por interpretações modernas acerca da verdade. Uma nação que não embasa seu código de leis às Sagradas Escrituras está condenado ao desmoronamento de suas instituições. A Bíblia não pode ser considerado "apenas um livro religioso". Ela é o padrão definidor da verdade de Deus. O próprio Lutero repetia: "Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Não posso e não quero me retratar de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é correto nem seguro. Aqui estou; nada mais posso fazer. Deus me ajude. Amém."

(*) Onde está o "sola grafia"?

Que ecoava de que é pela graça somente que o homem é salvo. Mas, hoje assistimos ao triste espetáculo de homens e mulheres que vivem pagando as suas promessas a Deus como se ele as exigisse. O nosso país tem sido escravo de uma mentalidade religiosa que prende os brasileiros no culto antibíblico às imagens esculpidas, que segundo as Escrituras: "tem boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; tem ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta" (Salmo 115.5-7).

(*) Onde está o "sola fide"?

A fé somente e não as obras é que salvam. A salvação caso viesse por meio das obras, facilmente geraria orgulho no salvo e não gratidão ao Salvador. Mas, temos que recorrer ao poeta Charles Wesley: "Enquanto preso o espírito jazia, nas sombras do pecado que seduz; com teu olhar a noite fez-se dia, e, despertando, vi a masmorra em luz. Cairam-me as algemas, livre me senti, e, pondo-me de pé, logo te segui".

(*) Onde está o "sola Christus"?

Somente por Jesus o homem é salvo. Deus não encontrou ninguém em posição de perfeição para ser o mediador entre si e o homem pecador. Ele precisou de uma operação de amor: enviar o seu filho para morrer aplacando a sua ira em relação ao homem que por natureza peca por hábito e prazer. Dai, então o principio "só por Jesus é que nós somos salvos".

(*) Onde está o "soli deo gloria"?

Quando vemos em nossa cidade pessoas se orgulhando pelo que tem de posses, logo precisamos parar a fim de pensarmos melhor: quem é dono de tudo mesmo? Isso me faz lembrar de um pastor amigo que está morrendo, ele tem um câncer no estômago, e orando ele pediu ao Senhor: "cuide de minha família." E no seu espírito, Deus lhe respondeu: "E quem você pensa que está cuidando agora? Você?". Deus merece toda a glória porque Ele incansavelmente tem cuidado de todos os detalhes da nossa vida.

Toda essa reflexão serve para levar você a perceber que a Reforma Protestante não foi apenas um ponto na história mas uma mudança de mentalidade. Hoje esses cinco princípios: "sola scriptura", "sola gratia", "sola fide", "sola Christus" e "soli deo gloria" precisam ser alvos de nossa obsessão para sermos seres humanos melhores em todas as nossas relações.

A denominação nunca será maior do que a soma em qualidade de suas igrejas cooperantes. A Convenção Batista Brasileira, precisa acordar para isso! Aquilo que provocou Lutero a questionar em seu tempo, persiste a nos incomodar. De um lado a frieza da religiosidade oficial em sua distância com as reais necessidades de nosso povo e de outro o "messianismo" de alguns pastores, pensando infantilmente que todos os problemas de nossa nação são resolvidos com orações do tipo "mantras extravagantes".

Estamos em busca do equilíbrio. E a Reforma Protestante trouxe equilíbrio ao espectro religioso do séc. XVI e, pela graça de Deus também levará uma noção acertada de moderação ao meio evangélico do séc. XXI. É o que cremos!

Não tenho outra escolha. Estamos no mundo como "luzeiros" e não podemos deixar de brilhar. O meu desejo com esse artigo é despertar consciências, é apelar para um retorno à pesquisa dos pressupostos da Reforma Protestante , enfim é propor que conferencias teológicas sejam promovidos em nossas igrejas para o resplandecer os valores da Reforma Protestante. E que através dos nossos púlpitos haja semanalmente exposição das Escrituras com senso de seriedade.

Que outros venham dar de nós o mesmo testemunho que Charles Spurgeon fez de John Bunyan (ambos batistas): “Fure-o em qualquer parte; e você verá que seu sangue é bíblico, a própria essência da Bíblia flui dele. Ele não consegue falar sem citar um texto, pois sua alma está cheia da Palavra de Deus”.

Temos um chamado: sermos faróis do verdadeiro evangelho em meio a uma denominação que, vez por outra, em um lugar e outro, tem perdido o seu brilho reformado. É como aplica a história que se segue: só poderemos estar seguros se a luz do nosso farol persistir em brilhar, mesmo em ambientes já acostumados com as trevas.

Certo homem, visitando um farol, disse ao guardião: "Você não tem medo de viver aqui? É um lugar terrível para se ficar por muito tempo." "Não," respondeu o homem, "eu não tenho medo. Aqui nunca nos preocupamos com nós mesmos." "Nunca se preocupam com vocês mesmos! Como pode ser isso?" A resposta foi convincente: "Nós sabemos que estamos perfeitamente seguros e só nos preocupamos em manter nossas lâmpadas brilhando e refletindo claramente para que aqueles que estão em perigo possam ser salvos."

Que o Senhor Deus tenha misericórdia de nós!

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